Por falta de tempo, estou incorporando o blog CAMINHO DO ARTESANATO ao FLORA DA SERRA.
O CAMINHO continuará, mas as novas postagens serão aqui. Para começar essa nova fase, apresento uma das últimas postagens do Caminho. Ela mostra a minha visão sobre o que é Artesanato.
Depois de fazer vários Cursos de Capacitação e de Design em Artesanato, depois de ouvir as inúmeras instrutoras a dizer sempre a mesma coisa – não copiem das revistas, não busquem os programas de tv e seus passo-a-passo - acabei ficando muito crítica e exigente quanto ao artesanato. Não consigo simplesmente copiar o que já está pronto.
Uma enorme inquietação tomou conta de mim, uma ânsia de criar algo novo e diferente – num mundo em que tudo já foi criado...- e como é difícil produzir assim !
Para buscar amparo nesse eterno questionar, fui pesquisar ARTESANATO, e aqui está um pouco do que encontrei :
"Transformando pedaços de madeira em belas frutas, do JORGE MENDES".
Os primeiros objetos feitos pelo homem eram artesanais.
"Arte em utilitários, na cerâmica do BERNARDO ILG".
Isso pode ser identificado no período neolítico (6.000 a.C.) quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica como utensílio para armazenar e cozer alimentos, e descobriu a técnica de tecelagem das fibras animais e vegetais.
"Resgatando a tradição do tear mineiro, no colorido tapete da PARADA RAMON".
O mesmo pode ser percebido no Brasil no mesmo período. Pesquisas permitiram identificar uma indústria lítica e fabricação de cerâmica por etnias de tradição nordestina que viveram no sudeste do Piauí em 6.000 a.C.
"Mesclando fios com fibras, o jogo americano executado em tear, pela COR E TRAMA (Mercedes Calfa)"
Historicamente, o artesão, responde por todo o processo de transformação da matéria-prima em produto acabado. Mas antes da fase de transformação o artesão é responsável pela seleção da matéria-prima a ser utilizada e pela concepção, ou projeto do produto a ser executado.
"As árvores de Minas são a inspiração para o bordado sobre juta, da FLORA DA SERRA (Flora Maria)".
A partir do século XI, o artesanato ficou concentrado então em espaços conhecidos como oficinas, onde um pequeno grupo de aprendizes viviam com o mestre-artesão, detentor de todo o conhecimento técnico. Este oferecia, em troca de mão-de-obra barata e fiel, conhecimento, vestimentas e comida. Criaram-se as Corporações de Ofício, organizações que os mestres de cada cidade ou região formavam a fim de defender seus interesses.
"Revitalizando a juta com o bordado em lã, da BRINCADEIRA DE PAPEL (Eli Cardoso)".
Com a Revolução Industrial, teóricos do século XIX, como Karl Marx e John Ruskin, e artistas (ver: Romantismo) criticavam a desvalorização do artesanato pela mecanização. Os intelectuais da época consideravam que o artesão tinha uma maior liberdade, por possuir os meios de produção e pelo alto grau de satisfação e identificação com o produto.
Na tentativa de lidar com as contradições da Revolução Industrial, William Morris funda o grupo de Artes e Ofícios na segunda metade do século XIX, tentando valorizar o trabalho artesanal e se opondo à mecanização.
"Buscando inspiração em Frida Kahlo, o bordado sobre feltro, do BICHO FOFO ( Cláudia Mello)".
Artesanato, por definição é utilitário.
-Artesão é aquele que domina a técnica.
- O Artesão nunca chega a perfeição se está sempre mudando.
"Trazendo de volta o antigo bordado sobre tecido, da LADAÍNHA (Marília Araújo)".
- Artesão é o criador, a mão que toma de seus ancestrais o conhecimento tradicional e o soma à sua própria habilidade, realizando peças nas quais funde utilidade, técnica e beleza. Artesão é o portador do saber cultural, é o dono dos meios de produção e portanto, de sua vida e do fruto do seu trabalho.
"O café de Carmo de Minas retratado na pintura em cabaça, do FRUTOS DA TERRA ( Marília Coli)".
-Artesão é aquele que cria um produto que possui uma história. A história do artesão sob seu ponto de vista e percepção. Um portador da voz, das mãos, do gesto do artesão. Este objeto tem conteúdo. Objeto- pensamento de seu criador. É um objeto-mensagem.
É único, é original.
"Reaproveitamento de peças antigas, com a pintura em ferro, da FÁBRICA DAS ARTES (Alcione)".
Rosa Pomar, a mais conhecida artesã/designer portuguêsa, responde a pergunta:
Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?
"Começa por desligar já o computador. Na internet só vais encontrar inspiração digerida por outras pessoas. O mundo não precisa de mais pregadeiras em feltro sintético e, no mundo real, há muitas técnicas e saberes sem herdeiros. Pede à tua avó que te ensine a fazer um cesto de vime, ou recupera o tear que ela tem lá em casa e que está cheio de teias de aranha, ou aprende a fazer chinelos de ourelos e agulhas de tricot com aros de bicicleta (isto é verídico) e meias da Serra D'Ossa, porque mais ninguém sabe. Vais ter de certeza muito mais para contar do que se ficares aí desse lado, e muitas mais pessoas a querer ler-te (eu vou ser uma delas)".
"Recriando antigos caminhos na pintura em tela, da FAZENDO ACONTECER (Tania Scrivano)".
"Quem, como eu, se começa a interessar por exemplo pelas tradições têxteis, dá por si a passar horas a fio nos sites de museus estrangeiros, e a tricotar meias Turcas em vez de meias da Serra D’Ossa (estas últimas condenadas a desaparecer em breve). Também não é por acaso que os designers ou empresários que querem integrar motivos populares no seu trabalho irremediavelmente acabam por pegar no galo de Barcelos ou nos lenços de namorados. É que por cá não há grande hipótese de terem visto outras coisas."
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A palavra ARTESANATO perdeu seu status e foi vulgarizada ao extremo, no momento em que "qualquer-coisa-pode-ser-chamada-de-artesanato".
Dentro de um conceito mais profundo, Artesanato não pode ser o produto copiado, multiplicado um milhão de vezes, mundo afora.
Artesanato precisa ter a inspiração e a transpiração do artesão, sua emoção e sua alma, sua certeza e suas dúvidas.
Querida Flora Maria, gosto muito de ler seus textos, sempre objetivos e informativos nos levando a novos conhecimentos. Adoro artesanato, sempre que passo por uma cidade procuro levar alguma lembrança, de preferência o artesanato local. Que estas manisfestações nunca deixem de existir!
ResponderExcluirOi, Zélia:
ResponderExcluirA luta do Sebrae é para que essas tradições não se percam, e sejam cada vez mais valorizadas.
Muito trabalho tem sido feito para o resgate da arte do povo, em tempos em que o que "manda" é a moda da novela da Globo.
Mas vamos caminhando...
Beijo