domingo, 7 de junho de 2015

EXISTE UM PLANO B ! Quem vai querer usá-lo ?

"Diz-se que uma comunidade é sustentável quando satisfaz plenamente suas necessidades de forma a preservar as condições para que as gerações futuras também o façam. Da mesma forma, as atividades processadas por agrupamentos humanos não podem interferir prejudicialmente nos ciclos de renovação da natureza e nem destruir esses recursos de forma a privar as gerações futuras de sua assistência". 
Em 2009 as palavras e idéias de Lester Brown eram essas que apresento aqui.  O que melhorou no planeta desde 2009 ? E o que piorou ?

  Para Lester Brown, um dos mais importantes pensadores ambientais do mundo, a injeção de recursos dos governos norte-americano e europeus não será suficiente para tornar mais sustentável a combalida economia internacional. O momento urgente sugere um plano B. A transição para a sustentabilidade passa, segundo ele, por taxar atividades baseadas na queima de combustíveis fósseis, incentivar o desenvolvimento e uso de energias renováveis e, com isso, criar novos empregos. Em seu mais recente livro, “Plan B 3.0: mobilizing to save civilization” Brown mostra que evitar o declínio da economia significa impedir o colapso da civilização.
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 "O termo sustentabilidade  aplicado à causa ambiental surgiu como um conceito tangível na década de 1980 por Lester Brown.
 A definição  acabou se tornando um padrão seguido mundialmente com algumas pequenas variações.
 Uma das preocupações dos ecologistas é que o desmatamento continue na Amazônia, o que eventualmente fará com que a floresta comece a secar e fique vulnerável ao fogo natural, causado por raios, por exemplo. Se isso ocorrer, poderemos assistir ao completo desaparecimento da floresta tropical. O planeta teria uma paisagem muito diferente da que existe hoje. No lugar de densa vegetação, nasceria um ecossistema de savana ou talvez de deserto.

Estamos nos aproximando de um ponto em que o futuro da Amazônia está em xeque. E não vai demorar muito para chegarmos a um outro ponto, em que não seremos mais capazes de salvar o que restará da floresta. Nada, então, poderá ser feito. Isso será um desastre não apenas para o Brasil, mas para todo o mundo".


“As corporações precisam reconhecer que seu futuro é inseparável do futuro da civilização e que elas também são responsáveis pela manutenção da vida na Terra. Devem, portanto, contribuir com a construção de uma economia global sustentável. Sem isso, vamos enfrentar um colapso.  Nenhuma companhia terá lucro avançando na escalada rumo à destruição. Precisamos rever rapidamente a economia global e particularmente a matriz energética por meio de políticas econômicas que reestruturem taxas e pressionem o mercado a contar a verdade ambiental”, ressalta o especialista.
A “verdade ambiental” a que se refere Brown diz respeito à inabilidade do mercado em incorporar impactos indiretos - também conhecidos como externalidades - causados ao meio ambiente e à sociedade pelas atividades econômicas. A inversão dessa lógica, que seria favorecer as tecnologias e práticas mais limpas em detrimento das baseadas na queima de combustíveis fósseis, representa uma oportunidade para criar novos postos de trabalho".
 "Apresentar a visão de um futuro sustentável e também os meios práticos para construí-la tem sido a missão de Brown ao longo de 40 anos dedicados à militância ambiental. Em 1974, ele fundou o Worldwatch Institute, uma organização sem fins lucrativos especializada na análise das questões ambientais globais. Em 1984, lançou a série de relatórios “O Estado do Mundo”. Traduzido para as principais línguas, os documentos alcançaram status semi-oficial, tornando-se uma espécie de “Bíblia” do movimento ambiental. Em 2001, Brown criou a Earth Policy Institute, do qual ainda hoje é presidente. A organização passou a disseminar informações na área ambiental utilizando, como suporte, uma rede mundial de editores, principalmente na Internet.
Apesar de entusiasta do termo desenvolvimento sustentável, Brown acredita que ele não seja muito empolgante. Em sua opinião, a associação de aspectos sociais e políticos à discussão - inicialmente apenas ecológica – esvaziou de certa forma o sentido do conceito. “Ao se tornar tão ampla, a sustentabilidade passou a significar pouco. O termo não mobiliza as pessoas”, ressalta Brown".

 " O modelo mental por trás da crise financeira é o mesmo que criou a crise ambiental e a insustentabilidade da economia – em termos ambientais. Esse modelo valoriza o presente em vez de se expandir para o futuro. Isso nos leva não apenas a déficits econômicos –a parte central dessa crise – mas também aos déficits ecológicos, que são parte central da crise ambiental hoje vivida. Mudança climática, desmatamento, erosão do solo,  colapso de algumas indústrias de pesca ou a queda de aqüíferos dizem respeito, de um jeito ou de outro, a déficits ecológicos. Em suas origens, a crise econômica mundial está muito ligada à crise ambiental que estamos experimentando já há algum tempo".


 "O único modelo que pode salvar a civilização é aquele que satisfaz as necessidades atuais sem prejudicar a capacidade das futuras gerações atenderem as suas próprias. Se continuarmos, por exemplo, a queimar combustíveis fósseis em larga escala, aumentando a temperatura da atmosfera, as camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida derreterão. Com isso, veremos um aumento enorme no nível do mar e, por conseqüência, um enorme caos. Em uma região como a Ásia, por exemplo, o derretimento dos glaciais nas montanhas do Himalaia, ao norte da Índia, ou do planalto do Tibete, alimentará os rios da região fora dos períodos das monções. Se essas camadas de gelo derreterem completamente com o aumento da temperatura, os rios desaparecerão na época de seca, prejudicando fazendeiros que dependem desses cursos d’água para irrigação. Isso não é apenas importante para países como a Índia e China, mas para todo o mundo, na medida em que poderemos viver a escassez de alimento em uma escala inimaginável".

"Acredito em ações locais. Muitos governos começarão a cortar rapidamente as emissões de seus países. Na Nova Zelândia, por exemplo, a primeira ministra Helen Clark tomou decisões importantes, independentemente de qualquer negociação internacional. Seu país se comprometeu a aumentar o uso de fontes renováveis para geração de energia elétrica dos atuais 70% para 90% até 2020. Também assumiu o compromisso de reduzir pela metade o uso de combustível para carros por habitante até 2040. Vai plantar cerca de 200 mil hectares de árvores, algo em torno de 31 árvores por habitante, número significativo para o seqüestro de carbono.
  Os consumidores, têm um papel muito importante. No entanto, quando me questionam sobre o que podem fazer, quase sempre esperam que eu responda sobre mudanças no estilo de vida, sobre alterações no sistema de iluminação da casa ou no descarte adequado de lixo. Mas estamos agora em uma situação muito grave na qual necessitamos reestruturar rápido a economia global, principalmente a economia energética. E isso exigirá novas políticas econômicas.

Nós, do campo ambiental, falamos nas últimas décadas sobre salvar o planeta. Mas o que está em jogo agora é a própria civilização. Se quisermos salvar a civilização, precisamos nos tornar politicamente ativos e isso significa não apenas votar nas eleições, mas também atacar algumas questões importantes. Salvar civilizações não é um esporte para expectadores".

"Pela primeira vez na história da humanidade existem mais pessoas vivendo nas cidades do que fora delas.  Em decorrência disso, estamos vivenciando crises em questões fundamentais como a mobilidade. As tecnologias de transporte funcionam em comunidades-modelo. Cresci em uma comunidade de fazendeiros onde sem os carros teríamos enorme dificuldade de locomoção. Mas à medida que os carros se multiplicam nas cidades, descobrimos que eles promovem, na verdade, a imobilidade. Em Londres, por exemplo, a velocidade média de um carro é menor do que a de uma carruagem do século 20. Ainda sim, investimos grandes quantias de dinheiro em carros que podem andar mais rápido. Por isso, as grandes cidades de países ricos e em desenvolvimento estão repensando os transportes.

A melhor alternativa é o transporte público rápido. A experiência do sistema de ônibus de Curitiba é um modelo inspirador para prefeitos de vários lugares do mundo".


 http://rts.ibict.br/entrevistas/entrevistas-2009/lester-brown-pensador-ambiental-e-presidente-da-earth-policy-institute/