segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ONDE CRESCEU O MEU PAI.


Meu pai nasceu no Enxertado, uma aldeia pequenina e tão remota que para chegar nela só em lombo de burro!

Passou sua infância entre o Enxertado e Felgueiras, onde também morou.

No inverno a água congelava, e ficava impossível ir à escola com o caminho tão coberto de neve.

Mas o rio que por lá passava tinha águas tão cristalinas que dava para se enxergar o fundo !

E a linda Serra da Estrela ficava perto.


Na foto, a casa da Mãe-Velha, em 1953.

Essas e outras histórias fui ouvindo de meu pai que, homem sensível e saudoso, gostava de relembrar sua infância em terras portuguesas.

Quando meu pai tinha 11 anos meu avô veio com a família “tentar a sorte” no Brasil.

Aos 25 anos meu pai voltou, à passeio, a sua terra e lá encontrou as mesmas emoções que o acompanharam por toda a sua vida. A casa de sua avó - carinhosamente chamada de Mãe Velha - de pedra como tantas outras existentes nas aldeias de Portugal , lá estava, tão pequenina agora que precisava abaixar-se para passar pela porta. Mas ela não era enorme ?

E a árvore que ele avistava, pertinho da janela do quarto em que dormia , e onde os passarinhos vinham cantar para alegrá-lo ?

E as frutas maravilhosas, colhidas no pé, saborosas e doces como não existiam em nenhum outro lugar ?

Nessa ocasião, já adulto, meu pai pode reconhecer as belezas de sua terra natal, recordando os dias difíceis, porém felizes, vividos naquele cantinho das montanhas.

Em 1968, já com 66 anos, meu pai visitou pela última vez sua aldeia, levando minha mãe para conhecer aquele lugar encantado que ele guardava no coração. Agora já não era preciso subir no lombo do burro, pois existiam estradas e carros para chegar até lá !

Na foto, meu pai, em 1968, aguando as flores da minha avó Olívia.

Nunca visitei a terra do meu pai, mas suas palavras ficaram eternamente marcadas em minha memória. Sinto um carinho imenso por esse lugar que não conheço pessoalmente, mas que também faz parte da minha vida.

Meu pai, como consta em seus documentos: Antonio Guedes de Mello , natural de Eirado do Enxertado, Freguesia de Resende, Concelho de Resende, Distrito de Viseu.



21 comentários:

  1. Flora,
    A história da vida de uma pessoa tem muita importância. São as raízes, que guardam tantas memórias felizes ou nem tanto.
    Acompanhei seu relato como quem viaja até a aldeia. Que bucólico!
    Meu pai era de Recife e foi morar no Rio adolescente. Lá casou-se e prometeu à minha mãe que iria levá-la para conhecer sua terra. Só voltou lá 41 anos depois, porque eu fui morar na cidade!
    Bjs.

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  2. Adoro histórias, Gina !
    Gosto de saber os caminhos que foram traçados pelas pessoas e os atalhos que a vida lhes criou.

    Beijo

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    1. Ola Flora Maria !
      Estou escrevendo a voce sobre o assunto "onde cresceu o meu pai". Gostaria muito de partilhar a suas recordaçoes ,porque eu proprio vivi no Enxertado durante um certo tempo da minha infancia. Estive là ultimamente par matar as saudades . Se estiver interessado pela minha historia, e se gostaria partilhar ainda mais recordacoes do seu pai naquele Aldeia do Enxertado, eu estaria muito feliz ! Julio M.

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  3. Olá Flora!
    Venho agradecer aqui no seu blog a sua primeirissima participação na blogagem da Aldeia e com um fantástico texto.Já o li e agendei.Já lhe mandei um mail.Parabéns pelo texto e mais uma vez obrigado.O seu pai devia ser um grande Homem e um lutador pois era da terra por onde Viriato andou :)
    Felicidades sempre

    Jocas gordas
    Lena

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  4. Oi Flora ! Lindas palavras.
    Acho que você nem deve ten-
    tar visitar a terra onde
    nasceu seu pai. Pode ter
    certeza que as lembranças
    que você tem agora, por
    intermédio dele, são bem
    mais saborosas. Continue
    guardando-as com carinho.
    Beijos. Vera

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  5. Olá amiga
    Adorei conhecer a história de vida do seu pai. O meu também saiu da aldeia natal, mas foi para Lisboa. Daí ele conseguir manter ligação com a aldeia. No entanto, o Brasil é muito longe e não dá para manter uma ligação física muito próxima. No entanto, o amor pela sua aldeia e pelo seu país eram tão profundos, que lhe conseguiu transmitir algo, que a faz sentir curiosidade por aquilo que lhes diz respeito.
    Um beijinho
    Lourdes

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  6. Obrigada, Lena, pela magnífica recepção !!!
    Estou até emocionada...
    Gosto muito do Aldeias da Minha Vida e acompanho com interesse as histórias lá narradas.

    Meu pai era um homem especial, sim.
    Muito sensível, tranquilo, discreto, tímido, emotivo, mas possuía uma grande força interior. Herdei um tanto de coisas dele, e aprendi outro tanto, nas longas conversas ao redor da mesa de refeições.

    Beijo

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  7. Oi, Vera Lúcia:
    Sei que é assim mesmo: muitas vezes nos decepcionamos nesses retornos a lugares do nosso passado.
    Melhor ficar com as recordações...
    Beijo e obrigada pela visita.

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  8. Oi, Lourdes:

    Dizem que a saudade dos que saem da sua terra é algo incomensurável.
    E o portugues é um nostálgico por natureza, basta ver qual é sua música-símbolo, não é mesmo ?

    Aprecio muito essas histórias de vidas. E poder deixá-las registradas para a posteridade é muito bom...

    Beijo

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  9. Que pai maravilhoso foi este, que
    já tendo partido, se mantém tão
    bonito e vivo no relato de sua
    filha...

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  10. Flora, estou voltando pra falar que o bolo de castanhas com cerejas penso que deve ficar muito bom substituindo por uva, mas nunca experimentei. Uma coisa posso garantir, se usar o biscoito de castanha e adicionar as castanhas, essas sabotarão o sabor de qualquer fruta...rs!
    Bjs.

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  11. Oi, Anônimo:
    Meu pai foi - é ! - uma pessoa especial. Era muito respeitado e admirado por todos que o conheciam.
    Era avesso à brigas e deixou-nos muitas lições de ética, honestidade e tolerância.

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  12. Oi, Gina:
    Tenho uma receita - diferente da sua - em que se coloca jabuticaba, e também experimentei com amoras, mas não pensei em usar uvas !

    Beijo

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  13. Olá Flora,

    A Beira Alta e Trás-os-Montes eram das províncias mais isoladas (e pos isso pobres) do Portugal isolado do séc.XIX e XX, só começaram a desenvolver pouco antes do 25 de Abril (da democracia) devido ás estradas e aos emigrantes e imigrante.

    O seu povo, principalmente o da Beira Alta, era (e é) inconformado e aventureiro. Muitos sairam em busca de uma vida melhor: Brasil e Lisboa, mais tarde França, Luxemburgo, Alemanha. Depois ainda os Estados Unidos.

    O problema é que muitas terras, dessas assim pequeninas, ficaram desabitadas e muitas vezes adulteradas pelas casas dos "franceses", que nada tinham a ver com as habitações tradicionais de granito.

    É certo que não estará como na foto de 1958, mas penso que se pudesse deveria visitar. É lindo na mesma... :)

    Eu nasci em Viseu e posso garantir que é uma zona bonita e com uma das melhores situações económicas no país, mesmo na crise. Tudo recuperado e bom nível de vida, se comparada com o resto do interior e memso com o litoral, à excepção de Lisboa.

    É isso mesmo... parece que os beirões conseguiram a tão desejada "melhor vida"!

    :)

    O frio enrigesse o carácter e a força de vontade, pode crer...

    Beiji***

    Adorei as fotos e as memórias.

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  14. A Aldeia da foto continua linda!
    Os Invernos continuam frios e cinzentos mas valem a pena pelo milagre da Primavera, quando a Natureza traz o verde da paisagem e o matiza de amarelo, rosa, vermelho, lilás...e faz o Sol irradiar uma luminosidade que chega à alma! A frescura e a leveza no ar fazem sentir um aconchego raro, talvez porque acompanhadas do canto das aves que festejam a liberdade.
    É verdade que já há casas "francesas", "suíças" e até "brasileiras" mas ainda existem as casinhas tradicionais que alguns habitantes teimam em manter e reconstruir por gosto, por admiração ou respeito por quem partiu. Algumas ainda esperam por quem um dia foi à procura de uma vida melhor e tem esperança de voltar!
    As pessoas que vivem na Aldeia actualmente não são muitas mas tenho a certeza que são muitas aquelas que A têm no coração,ou porque têm lá as suas raízes ou porque têm dela boas recordações que a memória faz questão de ter presentes.

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  15. Oi, Celeste, e eu ADOREI suas informações !
    É muito bom conhecer um pouco da terra do meu pai e saber das histórias dos beirões.
    Como são as "casas francesas" ?

    Obrigada pela visita.
    Beijo

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  16. Oi, Maria:
    Que beleza seu texto, tão poético e sensível ! Até fiquei me imaginando lá...
    Assim como perguntei para a Celeste, pergunto para voce: como são as casas suíças e as brasileiras ?

    Você mora lá ?
    Obrigada pela visita.
    Beijo

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  17. Olá Flora,

    Obrigada pelo seu comentário simpático lá no meu cantinho.

    :)

    Bem, casas francesas são as casas dos emigrantes que estavam em França. Não querendo ofender sencibilidades, claro, mas o que queria dizer é que eram vivendas modernas e por vezes extravagantes que nem sempre se enquadravam no tecido urbanístico das aldeias.

    Era isso... presumo que a Maria se refere a casas construídas por emigrantes de outros países também.

    Beijinho grande Flora :)

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  18. Oi, Celeste, obrigada pela explicação.
    Até fiquei curiosa para saber qual o estilo em que os franceses e outros construíam suas casas...
    Beijo

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  19. Olá Flora!
    É a segunda vez que intervenho no seu blog e da primeira não me apresentei, peço desculpa.Sou portuguesa e embora não more em Felgueiras conheço bem a aldeia e a região.
    Como disse a Celeste, as casas "francesas", "suíças", "brasileiras" são as casas construídas principalmente por emigrantes que trouxeram dos países onde estiveram ou estão emigrados as tendências de construção aí verificadas, resultando casas pouco características da região, mais coloridas, com telhados mais inclinados e formas bem diferentes das habituais.
    Não posso deixar de elogiar o seu blog, sobretudo pelo sentido de partilha de coisas tão simples e que fazem a diferença pelo grande valor que têm, ou poderiam ter, nas nossas vidas.Obrigada por essa partilha.

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  20. Obrigada, Maria, pelas informações e pelas palavras tão gentis.

    Essa intervenção dos estranhos nas terras alheias, já é história antiga, e como tudo na vida, tem o lado bom e o lado ruím.
    Só lastimo é quando a perda de identidade é muito grande e descaracteriza totalmente o lugar.

    Beijo

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