Dentre minhas "preciosidades seculares" está uma revista portuguêsa de 1914 !!! Papel bom, quase inteira, só faltando a capa, a ILUSTRAÇÃO PORTUGUEZA - CRONICA tem o nº422 e data de 23-3-1914. Pertencia ao meu pai, e foi mais uma das minhas heranças queridas.
Esta postagem vai especialmente para minha amiga virtual Nélia, que reside nos Açores, pois na revista estão estas incríveis informações sobre a quase inatingível Ilha do Pico.

"Fazer uma viagem aos Açôres é, no seculo vinte, uma coisa tão demorada e tão cara, como se estivessemos a dois passos do invento do vapor. Sae-se de Lisboa e levam-se bem seis a sete dias para chegar á ilha do Pico, quasi o dobro do tempo que se gasta de qualquer porto da Inglaterra a New-York ! Se as passagens tivessem já a redução que deviam de ter, e as maquinas um pouco mais de força, estou certo que alguem sempre se tentaria a uma digresssão pelas nove ilhas açoreanas, onde encontraria, em cada uma, encantos e belezas especiaes a admirar.

"Observe comigo o quadro magestoso e surpreendente que oferece a entrada n'esse pedaço de mar, que se chama - o canal entre o Faial e o Pico. São duas ilhas que a natureza colocou em frente uma da outra, a pequena distancia; a do Pico elevando-se a dois mil e tantos metros de altitude, a do Faial, baixa, com a casaria branca da sua cidade, a debruçar-se para a bahia, ambas belas, ambas formosas, a primeira caracterisando-se pelo seu aspéto vulcanico, a segunda pela graciosidade das suas montanhas e dos seus vales, pelos seus terrenos cultivados até á beira-mar, pelo colorido das suas hortenses, formando trechos policromos, como se a paciencia de um chinez se tivesse entretido a colocar ali finas porcelanas."

"Debruçado de qualquer janela, de qualquer varanda, passeando nas ruas da cidade, a ilha do Pico formada toda pela sua enorme montanha, n'um desenho acentuado de piramide, impõe-se-nos aos olhos na multipla variedade de côres, que, a cada instante, lhe vae imprimindo a luz do alto, oferecendo aspétos diversos. É azul agora para logo se cambiar n'um tom verde; é, mais logo, de uma côr de rosa viva, para depois toda se incendiar n'uma braza, quando o sol lhe bate de chapa".
Parece que continuo indo fundo nas minhas raízes portuguêsas...