terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ANOS DOURADOS

Cursei o ginásio entre os anos 1958 e 1961, no finalzinho dos "anos dourados". O colégio, um tradicional do subúrbio do Rio de Janeiro, pertinho da minha casa, possuia um ambiente familiar e tranquilo, onde o diretor -"Dr. Aliomar"- tinha sempre um discurso formal e amistoso, no seu peculiar sotaque baiano.A turma fez questão de baile caprichado, e para isso juntamos dinheiro durante 2 anos, fazendo bailinhos e até chá com desfile de modas. A passarela era formada por carteiras unidas e recobertas com papel pardo, e as modelos eram as próprias alunas, desfilando com seus vestidos de festas. Eu, timida e feinha por natureza, não desfilava, mas ajudava nos preparativos. Pedimos xícaras emprestadas a uma "loja de ferragens", e compramos biscoitos à granel, (os mais baratos) nas Casas da Banha do bairro. Os convidados pagantes, as nossas famílias.
Aqui estou eu, com o assustado rapazinho, arranjado na última hora, para a valsa.
Assim como a música que a Celi Campello cantava - "eu não tenho namorado, alguém que eu possa amar" - eu também não tinha namorado, apesar dos recém completados 17 anos.
Quem dançaria comigo as valsas de formatura ? Meu pai não dançava, muito menos meu irmão, 3 anos mais novo que eu. E apesar de ter vários colegas, não tinha liberdade para convidar nenhum deles. O que fazer ?
Minha mãe teve a brilhante idéia de pedir ao filho de uma amiga sua, um rapaz mais velho e bonitão, para ser o par daquela mocinha sem graça e envergonhada.
Tudo arranjado, chega o dia do baile, e lá está ele a postos para cumprir a árdua missão.
Eu, envolvida com os colegas e a família, só lembrei de procurá-lo no momento em que a cerimônia das valsas iria começar. E lá vou eu pelo Social Ramos Club procurando o Sérgio.
Eis que o encontro conversando com uma bonita moça, bem distante do salão de baile.
Para ser sincera, não lembro se tive coragem de chamá-lo e ele não veio, ou se não tive a tal coragem e deixei para lá.
Só sei que eu não queria perder a valsa, e saí procurando um dos rapazes conhecidos que estivesse vestido com um terno preto, pois era obrigatório tal quesito.
O único que preenchia essa exigência era o Paulo, e lá foi ele, muito à contragosto, pois estava com um terno velho e pobre, dançar comigo as 3 valsas ! Uma era com o pai, outra com o padrinho e a terceira com o namorado. Como meu pai foi meu padrinho e não dançava, sobrou para o Paulo a honra, e fiquei eternamente grata pelo seu sacrifício...
Missa de Formatura na igreja de Nossa Senhora das Mercês, em Ramos. Na escadaria a turma de uniforme. O Dr. Aliomar, no centro da foto, acompanhava mais uma turma de formandos de sua querida Escola Técnica de Comércio Santa Cruz, carinhosamente conhecida como Santa Cruz.
Nosso paraninfo, escolhido por votação da turma foi o Professor Castro, meu preferido, apesar de rigoroso. Dava aulas de Ciências e Geografia, e exigia que a aula, que ele ditava todinha, sem consultar nenhum livro, fosse copiada à lápis, para em casa ser passada à limpo com caneta. Dessa forma, copiávamos 2 vezes, e era mais fácil gravar na memória a matéria. Se encontrasse alguém escrevendo com a caneta, a mesma tinha que ser entregue em suas mãos, e o aluno teria que buscá-la mais tarde, na secretaria da escola.
Nosso lindo convite de formatura, em papel linho e com letras e arabescos dourados, guardo até hoje. O Santa Cruz possuía, além do curso técnico, o ginásio, e este tinha o nome de Ginásio Aliomar Pereira.
Mas para o bairro e para todos os que lá estudaram foi sempre conhecido, e é lembrado até hoje como SANTA CRUZ.

6 comentários:

  1. Que bom que foi viajar no tempo consigo, Flora.

    Achei a maior graça.
    Mas não achei a Flora sem graça, que ideia é essa, minha amiga?

    Uma moça tão bonita!
    Bem... eu também me acho muito sem graça nas raríssimas fotos de quando tinha 17 anos. Nem gosto de olhar, até me dá dor de cabeça kkkkk

    Mas não é o seu caso, Flora.
    E estava linda no seu vestido branco. Tivesse eu tido um vestido tão bonito quando casei quanto o seu de formatura...

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  2. É Hazel...
    Nos últimos tempos, ao peso dos recém completados 64 anos, fico olhando minhas fotos de criança e jovem e até acho que eu era bonitinha...
    Mas naquela época eu me achava horrível ! Nem imaginava o que vinha depois, com o passar dos anos...
    Eu valorizo muito a beleza, e sempre estive muito distante do meu alto padrão crítico. Mas sei que sempre fui simpática, e, como dizem alguns, tenho uma beleza e luz interior muito bonita.
    Bom mesmo é ter um marido que me ama do jeito que sou, e que não gosta nem um pouco de me ouvir dizer que não sou a Rainha da Beleza.
    Beijos

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  3. Ter um marido assim vale tudo, Flora.

    Um marido que tem a capacidade de ver para além daquilo que os olhos alcançam.

    É uma benção, não é, Flora?

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  4. É sim, Hazel, e não canso de agradecer a graça que tive no casamento. Como dizia uma música antiga, Menina Feia,
    "se você é feia, amor bonito você vai encontrar".
    E encontrei mesmo...

    Quanto ao meu lindo vestido de baile, era realmente bonito e chic, sem muitos "badulaques". Em organdi, era totalmente formado por "pregas religiosas", aquelas que, na horizontal, deitam-se umas sobre as outras. Na blusa elas eram menores e iam aumentando pela saia abaixo.
    Mas... era de "segunda mão".
    Minha mãe, prática e econômica, comprou-o de uma amiga nossa, que residindo em uma cidade pequena - onde todos se conheciam, e era uma vergonha repetir roupas de baile - vendeu-o novinho, e só foi preciso que uma costureira ajustasse ao meu tamanho.
    Vários anos depois, quando surgiu a moda do vestido tubinho, a saia foi transformada em um novo vestido curto que usei bastante.
    E ainda sobrou tecido para um vestidinho que minha filha usou aos 2 anos, já em 1969.
    Seguindo a regra áurea da família, comigo tudo é bem aproveitado.
    Beijo

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  5. OI FLORA, GOSTARIA DE SDABER SE VOCE POSSUI ALGUMA FOTO MAIS DO MEU PAI, PROFESSOR CASTRO. FIQUEI MUITO EMOCIONADA. PARA CONTATO CATARINAROSALEM@HOTMAIL.COM.

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  6. Oi, Catarina:

    Fiquei muito feliz com sua visita !
    O professor Castro, seu pai, era o meu preferido, e fiquei feliz quando ele foi escolhido como o paraninfo da nossa turma de ginásio.

    Volte sempre e vamos fazer contato.
    Beijo
    Flora Maria

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