Li essa história há muitos anos, e ela se tornou para mim num símbolo de esperança em dias melhores.
Já tirei cópias e distribui para amigos.
Agora, com o advento da Internet, vou distribuí-la aos sete ventos, como as sementes do velho francês.
"Esta é a história real da extraordinária epopéia de um homem incomum, que sozinho plantou toda uma floresta de 33 km quadrados, como que assumindo para si, a tarefa que deveria ser distribuída por toda a comunidade. Este homem, Elzéard Bouffier, morreu desconhecido como a maioria dos homens mais esclarecidos que lutam para conscientizar a humanidade. Entretanto, deixou-nos como herança, além de uma maravilhosa floresta de carvalhos, um comovente exemplo de fé, dedicação e confiança no futuro.
De sua vida, só nos resta este depoimento colhido por um viajante francês e publicado na revista da Associação de Preservação da Flora e da Fauna, numa adaptação de Maria Luiza Merkle:
“Em 1910 empreendi uma longa caminhada nas montanhas da Provença, em região ainda desconhecida pelos turistas, e que não apresentava mesmo nada atraente, pois a terra era árida, seca, onde nada crescia alem da alfazema silvestre. Atravessando o planalto, depois de três dias de caminhada, eu me vi numa paisagem de incomparável deserto.
Acampando, procurei água para beber, de fonte ou talvez de um poço antigo, pois umas ruínas ali davam a certeza de terem existido moradias.
Mas nada encontrei a não ser a solidão e um vento que soprava com veemência, e por isso me vi obrigado a continuar a caminhada, carregando a barraca.
Após cinco horas de caminhada, sem encontrar água, divisei ao longe um vulto que reconheci ser um homem – um pastor com umas trinta ovelhas deitadas ao seu redor, juntamente com um cão. Compreensivo, adivinhando a minha sede de três dias, deu-me de beber de sua garrafa de campo, convidando-me mais tarde para ir a sua casa.
Solitário, tendo perdido sua mulher e o filho, instalara-se nessa terra inculta, longe de povoados de gente em constantes rixas e inveja. Dividindo uma sopa quentinha e gostosa entre nós dois, na refeição ele pouco falava e pude observar o seu jeito calmo, comedido, sua barba feita, a roupa com seus botões firmes, apesar de uns remendos quase imperceptíveis. Ao redor, tudo limpo, em ordem, chão varrido.
Apesar de pouca fala, inspirava confiança. Depois da refeição, levantou-se e foi buscar um saquinho, despejando o seu conteúdo na mesa. Eram bolotas (sementes) de carvalho, e ele as foi examinando uma a uma com cuidado, separando as boas. Depois sem mais conversa, foi dormir em paz.
Na manhã seguinte perguntei se podia acompanhá-lo, e ele consentiu com um aceno. Antes de nossa saída, ele mergulhou as bolotas em um balde de água, e lá fomos, não sem ele munir-se de um cano de ferro da grossura de um polegar. Fiquei intrigado, querendo adivinhar o que ele faria com esse cano.
Fomos até o vale e lá ele deixou o seu rebanho aos cuidados do cachorro e nós subimos um escalão a uns cem metros adiante. E era ali, fazendo buracos com o cano de ferro, que ele ia plantando as bolotas de carvalho.
Perguntei se a terra era dele. Não, não era, e nem sabia tampouco de quem era. No entanto, isso não o impedia de continuar a plantar as bolotas, pois já plantara 100.000 delas. Destas, 20.000 haviam germinado, e os ratos fariam perder mais ou menos a metade. Mesmo dez mil restantes, onde antes não havia nada, não era isso compensador ? Naturalmente que sim, eu lhe disse. E esses dez mil carvalhos, em trinta anos, seriam uma linda floresta de se ver. E ele fitando os olhos confiantes no horizonte, repetiu: Em trinta anos?... Até lá eu terei plantado muito mais, e tambem faias e bétulas. Já tenho viveiro na minha horta, diz com convicção.
Despedi-me no dia seguinte, e anos depois rebentava a guerra de 1914, que me prendeu durante cinco anos. Mas mal consegui o documento de mobilização , senti uma saudade imensa de ar fresco, de ar de montanha. E lá fui eu para aquela terra árida e erma, onde eu sabia morar um ermitão com seu estranho “hobby”de plantar bolotas.
A paisagem era a mesma, mas lá naquele local antes desértico e abandonado, avistava-se uma neblina cobrindo o cume do monte, como um tapete. Lembrei-me dos dez mil carvalhos do pastor de ovelhas: tal número de árvores devia estar cobrindo uma apreciável área. E esse ermitão chamado Elzéard Bouffier provavelmente já estaria morto. Mas não estava, e ao contrário, sentia-se ainda bem e forte. Havia mudado de profissão, ficando com apenas quatro ovelhas, substituindo as outras por colmeias. Os carvalhos plantados em 1910 já atingiam a altura de dois homens, e outros mais, plantados durante dez anos, cobriam uns onze quilômetros de comprimento por três de largura, desse planalto.
Fiquei estupefato – toda essa imponência vinda das mãos desse homem simples, sem recursos técnicos nem financeiros ! Ele havia continuado com seu projeto de plantar faias, as quais já se entendiam a perder de vista. E bétulas tambem, em grupos no vale, ele as plantara para garantir a permanência do lençol freático. E tinha razão : onde antes havia terra seca, agora os córregos jorravam água fresca e cristalina.
A natureza, com água reaparecida e o vento espalhando sementes, foi dando vida, relva e flores. Vagarosa e constantemente, tudo se transformara em paisagem atraente. Guardas florestais que nada disso sabiam, mas foram atraídos por esta transformação, julgando-a um “capricho da natureza”, nem poderiam desconfiar que pudesse existir alguem de tal persistência e generosidade. Um dia, surpreenderam Elzeárd Bouffier na mata esquentando a sua refeição sobre pequenos galhos ardendo, e temendo um incêndio nesta mata, que “merecia toda proteção”, determinaram que a abandonasse. Sem nada explicar, ele mudara-se então para mais longe, e continuou, com toda sua calma, a plantar.
Sempre longe e solitário, nada sabia da guerra de 1914 e nem da de 1939. Vi-o pela última vez em junho de 1945. Ele tinha 87 anos. Para vê-lo, já não precisei caminhar dias a pé, pois um ônibus já servia aquela região, toda transformada. Em lugar do vento mordaz chicoteando o rosto, soprava uma suave brisa carregada de perfumes. E água – havia água a valer. Já havia algumas casas – cinco, com hortas e flores em abundância harmoniosa – repolhos e roseiras, cheiros e boca-de-leão...
Agora era um lugar aprazível onde se podia morar. Obra de fé e esperança no futuro – confiante na força da natureza. Um homem de alma pura, sensível às leis que regem esse mundo de Deus, e que, pela sua simplicidade soube descobrir um maravilhoso caminho em direção à felicidade. "
"Esta é a história real da extraordinária epopéia de um homem incomum, que sozinho plantou toda uma floresta de 33 km quadrados, como que assumindo para si, a tarefa que deveria ser distribuída por toda a comunidade. Este homem, Elzéard Bouffier, morreu desconhecido como a maioria dos homens mais esclarecidos que lutam para conscientizar a humanidade. Entretanto, deixou-nos como herança, além de uma maravilhosa floresta de carvalhos, um comovente exemplo de fé, dedicação e confiança no futuro.
De sua vida, só nos resta este depoimento colhido por um viajante francês e publicado na revista da Associação de Preservação da Flora e da Fauna, numa adaptação de Maria Luiza Merkle:
“Em 1910 empreendi uma longa caminhada nas montanhas da Provença, em região ainda desconhecida pelos turistas, e que não apresentava mesmo nada atraente, pois a terra era árida, seca, onde nada crescia alem da alfazema silvestre. Atravessando o planalto, depois de três dias de caminhada, eu me vi numa paisagem de incomparável deserto.
Acampando, procurei água para beber, de fonte ou talvez de um poço antigo, pois umas ruínas ali davam a certeza de terem existido moradias.
Mas nada encontrei a não ser a solidão e um vento que soprava com veemência, e por isso me vi obrigado a continuar a caminhada, carregando a barraca.
Após cinco horas de caminhada, sem encontrar água, divisei ao longe um vulto que reconheci ser um homem – um pastor com umas trinta ovelhas deitadas ao seu redor, juntamente com um cão. Compreensivo, adivinhando a minha sede de três dias, deu-me de beber de sua garrafa de campo, convidando-me mais tarde para ir a sua casa.
Solitário, tendo perdido sua mulher e o filho, instalara-se nessa terra inculta, longe de povoados de gente em constantes rixas e inveja. Dividindo uma sopa quentinha e gostosa entre nós dois, na refeição ele pouco falava e pude observar o seu jeito calmo, comedido, sua barba feita, a roupa com seus botões firmes, apesar de uns remendos quase imperceptíveis. Ao redor, tudo limpo, em ordem, chão varrido.
Apesar de pouca fala, inspirava confiança. Depois da refeição, levantou-se e foi buscar um saquinho, despejando o seu conteúdo na mesa. Eram bolotas (sementes) de carvalho, e ele as foi examinando uma a uma com cuidado, separando as boas. Depois sem mais conversa, foi dormir em paz.
Na manhã seguinte perguntei se podia acompanhá-lo, e ele consentiu com um aceno. Antes de nossa saída, ele mergulhou as bolotas em um balde de água, e lá fomos, não sem ele munir-se de um cano de ferro da grossura de um polegar. Fiquei intrigado, querendo adivinhar o que ele faria com esse cano.
Fomos até o vale e lá ele deixou o seu rebanho aos cuidados do cachorro e nós subimos um escalão a uns cem metros adiante. E era ali, fazendo buracos com o cano de ferro, que ele ia plantando as bolotas de carvalho.
Perguntei se a terra era dele. Não, não era, e nem sabia tampouco de quem era. No entanto, isso não o impedia de continuar a plantar as bolotas, pois já plantara 100.000 delas. Destas, 20.000 haviam germinado, e os ratos fariam perder mais ou menos a metade. Mesmo dez mil restantes, onde antes não havia nada, não era isso compensador ? Naturalmente que sim, eu lhe disse. E esses dez mil carvalhos, em trinta anos, seriam uma linda floresta de se ver. E ele fitando os olhos confiantes no horizonte, repetiu: Em trinta anos?... Até lá eu terei plantado muito mais, e tambem faias e bétulas. Já tenho viveiro na minha horta, diz com convicção.
Despedi-me no dia seguinte, e anos depois rebentava a guerra de 1914, que me prendeu durante cinco anos. Mas mal consegui o documento de mobilização , senti uma saudade imensa de ar fresco, de ar de montanha. E lá fui eu para aquela terra árida e erma, onde eu sabia morar um ermitão com seu estranho “hobby”de plantar bolotas.
A paisagem era a mesma, mas lá naquele local antes desértico e abandonado, avistava-se uma neblina cobrindo o cume do monte, como um tapete. Lembrei-me dos dez mil carvalhos do pastor de ovelhas: tal número de árvores devia estar cobrindo uma apreciável área. E esse ermitão chamado Elzéard Bouffier provavelmente já estaria morto. Mas não estava, e ao contrário, sentia-se ainda bem e forte. Havia mudado de profissão, ficando com apenas quatro ovelhas, substituindo as outras por colmeias. Os carvalhos plantados em 1910 já atingiam a altura de dois homens, e outros mais, plantados durante dez anos, cobriam uns onze quilômetros de comprimento por três de largura, desse planalto.
Fiquei estupefato – toda essa imponência vinda das mãos desse homem simples, sem recursos técnicos nem financeiros ! Ele havia continuado com seu projeto de plantar faias, as quais já se entendiam a perder de vista. E bétulas tambem, em grupos no vale, ele as plantara para garantir a permanência do lençol freático. E tinha razão : onde antes havia terra seca, agora os córregos jorravam água fresca e cristalina.
A natureza, com água reaparecida e o vento espalhando sementes, foi dando vida, relva e flores. Vagarosa e constantemente, tudo se transformara em paisagem atraente. Guardas florestais que nada disso sabiam, mas foram atraídos por esta transformação, julgando-a um “capricho da natureza”, nem poderiam desconfiar que pudesse existir alguem de tal persistência e generosidade. Um dia, surpreenderam Elzeárd Bouffier na mata esquentando a sua refeição sobre pequenos galhos ardendo, e temendo um incêndio nesta mata, que “merecia toda proteção”, determinaram que a abandonasse. Sem nada explicar, ele mudara-se então para mais longe, e continuou, com toda sua calma, a plantar.
Sempre longe e solitário, nada sabia da guerra de 1914 e nem da de 1939. Vi-o pela última vez em junho de 1945. Ele tinha 87 anos. Para vê-lo, já não precisei caminhar dias a pé, pois um ônibus já servia aquela região, toda transformada. Em lugar do vento mordaz chicoteando o rosto, soprava uma suave brisa carregada de perfumes. E água – havia água a valer. Já havia algumas casas – cinco, com hortas e flores em abundância harmoniosa – repolhos e roseiras, cheiros e boca-de-leão...
Agora era um lugar aprazível onde se podia morar. Obra de fé e esperança no futuro – confiante na força da natureza. Um homem de alma pura, sensível às leis que regem esse mundo de Deus, e que, pela sua simplicidade soube descobrir um maravilhoso caminho em direção à felicidade. "
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